Os craques possuem um cérebro diferenciado
Entenda o funcionamento do cérebro do Neymar
Top 5 dos Jogadores
A copa está se aproximando e Neymar tem sido o principal assunto dos últimos meses.
Ninguém pode negar que o craque do PSG cativa todos os holofotes dentro e fora das quatro linhas.
Enquanto jogador, Neymar é um dos melhores do mundo e ocupa o Top5 dos jogadores que mais defenderam a Seleção Brasileira, tornando-se o segundo maior artilheiro da equipe do Brasil, ultrapassando Ronaldo e ficando somente atrás de Pelé. Com isso, Neymar soma, nada mais nada menos que 64 gols em jogos oficiais pela seleção brasileira, contra 62 do Ronaldo Fenômeno e 77 do Rei. Salientando que para ser o maior, precisa apenas vencer a Copa do Mundo, embora já esteja entre os melhores do pós-Pelé, o que é significativamente grande para sua carreira.
Se analisarmos o atleta apenas sob o ponto de vista profissional, já nos traz dimensões gigantescas. Imagina isso agregado ao sucesso nas mídias sociais!
Hoje, a pessoa do Neymar tem mais de 152 milhões de seguidores, somente no Instagram. É como se ele estivesse o tempo todo em evidência. Logo, tudo que faz e tudo que fala, ganha notícia. E nesse caso a mídia é implacável!
Pegando os últimos acontecimentos vemos um Neymar irritado e desgastado por inúmeras críticas recebidas.
Ocasionalmente ele apresenta sinais de estar com dificuldade em lidar com as pressões e as expectativas. Por outro lado, a mídia está sempre soltando alguma nota de cunho ofensivo, desencadeando todo um processo de “fadiga” mental no atleta. O quê é perfeitamente compreensível, sob do ponto de vista psicológico.
Recentemente ele foi alvo de críticas quanto a sua forma física, e demonstrou publicamente a insatisfação com a imprensa, publicando em seus histories do Instagram fotos de sua barriga.
Mas porque as críticas têm deixado o Neymar tão irritado?
A insatisfação, bem como a intolerância do Neymar com a imprensa não vem de hoje. E Isso talvez explique a sua resposta “reativa,” usada até mesmo como um mecanismo de defesa para lhe dar com os comentários.
Antes disso gostaria da falar do “body shaming” - Um termo em inglês que é usado para qualificar atitudes destrutivas que vêm cada vez mais ganhando espaço nas redes sociais. “O body shaming é quando apontamos o corpo do outro, de forma a ridicularizar a pessoa, pelo fato de ser ou de estar gorda.
No caso do Neymar, é como se apontasse a sua atuação profissional e a colocasse em dúvida, por estar supostamente acima do peso. O que pode ser um engodo!
Quem não lembra do Ronaldo Fenômeno, que apesar da sua forma física sempre brilhou em campo.
Dias, após ter sido ridicularizado pela sua aparência física, houve aquele episódio que envolveu a atriz Patrícia Pilar e em seguida, um áudio vazado na transmissão da Globo entre Colômbia x Brasil, onde Galvão Bueno, hipoteticamente chama Neymar de Idiota.
Fatores como esses, associados à pressão por resultados e cobranças aos quais o Neymar vem sendo subjugado, podem evoluir para um quadro clínico complexo e afetar a saúde mental de qualquer atleta nessas condições.
Diante de tudo isso, é até passível de compreensão a sua mais recente fala com relação à copa do Catar, ao dizer em entrevista que não sabe se "terá cabeça" para jogar outra Copa do Mundo depois do Catar-2022.
Suponho que ele tenha se expressado baseando-se mais nos fatos atuais, do que verdadeiramente no que vai acontecer após a Copa do próximo ano.
Bastou o jogador falar meia dúzia de palavras, para que elas ganhassem as mais diversas interpretações, repercutindo como: Postura reativa, mal-educado, chorão, inconveniente e outros adjetivos.
Porque a entrevista gerou tanta
polêmica?
Ora, se levarmos em consideração todos os acontecimentos que permeiam a vida desse atleta nos últimos tempos, é humanamente compreensível seu estresse emocional.
Por outro lado, estudos mostram que durante ou após a exposição de uma atividade física; no caso, uma partida de futebol, o cérebro torna-se muito mais sensível às informações recebidas, levando à mudanças mensuráveis, na sua percepção, fazendo com que as ondas cerebrais ganhem mais impulso.
Esses tipos de ondas cerebrais, são caracterizadas pelo número de vezes que elas oscilam em um único segundo e estão ligadas ao estado mental e ao humor de cada pessoa.
Considerando o estresse emocional do Neymar, percebemos que suas respostas são lançadas de forma automática, disparando gatilhos, até mesmo como mecanismos de defesa.
Percebam que nessa entrevista, Neymar demonstra estar magoado e até com um toque de desânimo, apesar de ter feito uma grande partida.
Imaginemos então, um cérebro dotado de um raciocínio extremamente rápido, como é o caso do Neymar, vindo de uma partida de 90 minutos, e em seguida ter que dar entrevistas… Até ai, tudo bem!
Agora, juntemos a atividade cerebral executada durante o jogo, mais o estresse emocional que acomete o Neymar. É natural que ele esteja na defensiva e diga palavras já preservadas em sua memória emocional, até mesmo como uma resposta automática.
De acordo com Richard Maddock e Tom Bullock, pesquisadores da Califórnia e estudiosos do cérebro humano, eles acreditam que durante ou logo após uma atividade física, o córtex visual é projetado para zerar recursos importantes no ambiente – o tipo de recursos que podem indicar, por exemplo, a presença de um predador ou uma presa, potencializando novas conexões neurais.
Maddock, descobriu ainda que durante ou logo após uma atividade física os níveis de glutamato e GABA – dois dos neurotransmissores mais comuns no cérebro – aumentam.
Isso quer dizer que o cérebro pode estar “preenchendo seus estoques de ingredientes essenciais” .“Talvez para lidar com o estresse, gerado por um período prolongado da atividade física.
Trazendo este dado para exemplificar o caso Neymar naquela entrevista, podemos dizer que sua postura respondeu imediatamente ao ataque. É como se estivesse o tempo todo na defensiva.. E como a mídia o ataca, ele também responde atacando. Seja com as palavras ou com ironia.
Isso, dentro dos preceitos da psicologia é uma reação devidamente saudável.
Sugiro nesse caso, que o Neymar evite dar entrevistas logo após o jogo, até mesmo para preservar suas funções mentais, e que haja uma compreensão maior acerca dessas conexões emocionais.
Neymar – o Craque
Como funciona o cérebro de um craque?
Através de estudos sobre o funcionamento do cérebro de atletas a neurociência descobriu que um jogador de futebol possui uma incrível rapidez de raciocínio e uma excelente memória corporal. E que isso se torna ainda mais evidente, quando se trata de um craque.
Por diversas vezes, Neymar foi motivo de especulações sobre a sua incrível capacidade profissional.
Destacamos aqui duas jogadas geniais desse craque e salientamos a velocidade de seu raciocínio.
Uma, trata-se de uma partida entre o Barcelona e o Villarreal e a outra foi entre o PSG e o Olympique de Marseille.
Na primeira jogada, Neymar pega um passe do Soárez, passa pelo meio girando, já dando um “chapéu” e faz o gol.
Na segunda jogada, ele se coloca num espaço mínimo entre três marcadores e faz os dribles numa velocidade gigantesca.
Foi observado que para fazer aqueles dribles que o Neymar fez, precisaria de um cérebro extremamente rápido.
Quanto tempo se imagina que um jogador pensa para fazer esse tipo de jogada?
Vamos lá: Neurocientistas descobriram que o cérebro dos melhores jogadores de futebol, têm uma capacidade extraordinária na rapidez de raciocínio.
Em muitas ocasiões o craque do PSG já agregou em uma única jogada, habilidade, agilidade e técnica, com uma capacidade incrível de raciocínio.
E isso só pode ser visto num jogador diferenciado, e acima de tudo de um cérebro extraordinário.
Grandes descobertas na indústria esportiva mostram que alguns jogadores possuem habilidades mentais muito significativas, que se destacam dos demais.
Todavia, até pouco tempo havia-se um preconceito de que uma boa parte dos jogadores de futebol não teriam um QI tão elevado; o que sugere uma visão depreciativa do futebol, ou sobre àqueles que o compõe.
Muitos jogadores sofreram com essa falácia, inclusive o Garrincha, que foi avaliado e reprovado pelo psicólogo e professor, João Carvalhaes; (1958- Copa na Suécia).
Sua reprovação foi devido ao fato do Garrincha ter apenas instrução primária, ter uma inteligência abaixo da média e agressividade zero. Logo, para um teste psicotécnico onde media uma pontuação de até 123 pontos, Garrincha fez somente 38 e foi considerado mentalmente incapaz para aquela época.
De lá pra cá muita coisa mudou, inclusive a tecnologia e a ciência que facilita muito no processo de avaliação de um atleta.
Acreditava-se que para uma pessoa ser inteligente, era preciso apenas que ela soubesse cálculos matemáticos, que tivesse eloquência na língua portuguesa ou possuísse outros adjacentes.
Na verdade, existem diversos tipos de inteligências.
No caso dos atletas existem outras habilidades cognitivas e inteligências corporais, que não vemos em outras pessoas.
Como por exemplo, maior atenção, maior raciocínio, maior reflexo e até uma maior visão espacial. Permitindo que sua visão periférica seja muito mais aguçada, facilitando o atleta a perceber o que está fora do foco principal de sua visão. Como por exemplo, no caso dos futebolistas, que veem o jogador adversário, que identificam o jogador do próprio time e ainda se percebem no campo conduzindo a bola. Onde tudo isso é muito dinâmico e exige uma orientação espacial “full time”.
Cientistas europeus realizaram uma bateria de testes com alguns jogadores profissionais, onde foram avaliados memória, velocidade de raciocínio, percepção visual, planejamento e tomada de decisão. O resultado dessa mostragem constatou que os jogadores são donos de cérebros muito apurados. Eles ficaram entre os 2% por cento melhores dos testes, em comparação com os dados da população em geral.
Esse mérito fica ainda mais evidente numa situação de drible, tal qual aquela jogada entre o PSG e o Olympique de Marseille. É quando Neymar está diante dos adversários, e percebe detalhes dos corpos e dos movimentos do rival, e dentro de uma fração de segundos definiu que movimento seguir.
É a agilidade visual e a clara noção de orientação espacial, que permitem com que os craques acessem rapidamente uma infinidade de informações mentais, com vários dados de jogadas que aprenderam no decorrer da carreira.
É a memória apurada, que acessa esse “arquivo” e escolhe a jogada mais indicada para aquela situação. E num lance rápido de raciocínio, eles executam o movimento elaborado.
Tudo isso em apenas 0,2s (dois décimos de segundo). Mais rápido do que um piscar de olhos.
Estudos mostram que quanto melhor o jogador, mais habilidade cerebral ele possui.
Ou seja, um craque é realmente diferenciado e leva vantagem sobre os outros. Pois quando estão em campo eles pensam diferente e conseguem usar o cérebro com muito mais eficiência. Isso porque um craque usa uma parte mais ampla do cérebro para tomar as decisões, em comparação com os jogadores comuns. Ou seja, as conexões neurais desses atletas são muito mais legítimas.
Eles têm muito mais facilidade em antecipar os movimentos na hora de receber e de distribuir a bola.
Por Milânia Bezerra – Psicóloga e pesquisadora da neurociência
CRP-28185-9
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